Todas as Igrejas para o mundo interiro

Por Dom Giovanni Crippa, IMC*

Para reavivar a consciência batismal do Povo de Deus em relação a missão da Igreja, o Papa Francisco escolheu para o Mês Missionário Extraordinário (outubro 2019) o tema “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. Despertar a consciência da missio ad gentes e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral é o objetivo deste mês que está em sintonia com a solicitude pastoral do Papa Bento XV em Maximum Illud e a vitalidade missionária expressada pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “A ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja” (EG 15). Trata -se de “pôr a missão de Jesus no coração da Igreja, transformando-a em critério para medir a eficácia de suas estruturas, os resultados de seu trabalho, a fecundidade de seus ministros e a alegria que eles são capazes de suscitar. Porque sem alegria não se atrai ninguém” (Reunião do Comitê diretivo do CELAM, Bogotá, 7 de setembro de 2017).

1. O horizonte de cada Igreja
“Todas as Igrejas para o mundo inteiro” foi o tema da Mensagem de Bento XVI para o 81° Dia Mundial da Missões de 2007 em ocasião da comemoração do 50° aniversário da encíclica Fidei donum, de Pio XII, «com a qual foi promovida e encorajada a cooperação entre as Igrejas para a Missão “ad gentes”».

O incipit da encíclica, Fidei donum, foi usado para indicar os clérigos que se dedicam ao serviço de uma Igreja nas terras de missão. Esta intuição original de Pio XII antecipou a doutrina conciliar sobre a “sollicitudo” de cada bispo para com a Igreja universal: «[…] se cada bispo é sagrado pastor apenas da porção do rebanho a ele confiada, no entanto, por instituição e preceito de Deus, é legítimo sucessor dos apóstolos e por isto responsável, juntamente com os outros bispos, pelo múnus apostólico da Igreja» .

A encíclica de Pio XII indicava no dom da fé o fundamento teológico do dever missionário de cada cristão e da essência da própria Igreja. Se a Igreja é um «intercambio de vida e de energia entre todos os membros do corpo místico de Cristo», a missão é um dar e um receber das riquezas de cada uma. Se a catolicidade é uma característica essencial da verdadeira Igreja, cada Igreja tem uma responsabilidade para com as outras. Existe então uma corresponsabilidade do corpo episcopal na missão universal da Igreja.

É neste sentido que Bento XVI convidava «as Igrejas locais de todos os Continentes a uma compartilhada consciência acerca da urgente necessidade de relançar a ação missionária diante dos múltiplos e graves desafios do nosso tempo». O Papa convidava as Igrejas assim ditas de antiga tradição e as de recente evangelização a entrarem na dinâmica da cooperação missionária e do “intercâmbio de dons” que reverte em favor de todo o Corpo Místico de Cristo.

«A Igreja é missionária por sua natureza», afirma o decreto Ad Gentes e na Redemptoris Missio São João Paulo II acrescenta: «o mandato de Cristo não é algo de contingente e exterior, mas atinge o próprio coração da Igreja. Segue-se daí que toda a Igreja e cada uma das Igrejas é enviada aos não cristãos. Mesmo as Igrejas mais jovens, precisamente “para este zelo missionário florescer nos membros da sua pátria”, devem “participar o quanto antes e de fato na Missão universal da Igreja, enviando também elas, por todo o mundo, missionários a pregar o Evangelho, mesmo que sofram escassez de clero” (n° 62)».

«O compromisso missionário – continua o Papa Bento XVI na sua mensagem – permanece, portanto, como já dito outras vezes, o primeiro serviço que a Igreja deve à humanidade de hoje, para orientar e evangelizar as transformações culturais, sociais e éticas […]. A Igreja não se pode omitir nesta Missão universal; a Missão tem para ela a força de uma obrigação».

Pe. Meo Elia lembra que “ As Igrejas particulares não são uma porção de Igreja, mas toda a Igreja de Deus que se torna presente num determinado lugar a partir do qual deve resplandecer todo o mistério de Cristo, vivendo as propriedades essenciais da sua Igreja uma, santa, católica, apostólica. Como observa Congar, a fé, a Eucaristia, a caridade, os dons espirituais possuem uma intenção universal. Em virtude do dinamismo do Espírito, que os inspira e articula, eles visam a edificar uma só Igreja povo de Deus, corpo de Cristo, templo do Espírito. Por consequência, as Igrejas particulares, “não são somente a presença do todo em cada parte, mas exigem que as partes sejam ordenadas ao todo” . É aqui que se situa a teologia da Comunhão. O espírito de Comunhão consiste em comportar-se solidário em relação ao “todo ” que é a Igreja universal.

Portanto, a Comunhão com as outras Igrejas (no sentido de reciprocidade e solicitude de cada uma para com todas) é constitutiva da natureza de cada Igreja particular. Também a Missão em relação ao mundo inteiro, que é o fim da existência da Igreja, é constitutivo de cada Igreja particular: ela é chamada a manifestar a ânsia missionária de Cristo, que não tem limites. É Igreja verdadeira se testemunhar que Deus ama não somente a nós, mas a todos. É “local” para indicar o lugar a partir do qual deve olhar o mundo, e não para indicar o lugar onde encerrar o nosso olhar.

Tudo isso é “constitutivo” da Igreja. A universalidade da Comunhão e da Missão não é, então, ligada a uma condição de bem-estar, pela qual uma diocese pode olhar para longe somente se for rica de meios, e enviar padres somente se tiver um número exorbitante. Se a universalidade faz parte da essência de cada Igreja particular, apesar dela ser pobre deve olhar para longe, não somente dentro da sua casa: é a sua mesma natureza que a impulsiona a ir alem dos muros. Como Igreja de Deus, não tem como objetivo somente os cristãos que dela fazem parte, mas o projeto de salvação que Deus tem para todos os povos.

2. O horizonte de cada presbítero
A identidade missionária do presbítero não representa uma novidade na legislação e na reflexão do magistério pontifício.
“O envio dos primeiros sacerdotes Fidei donum foi interpretado como um fato extraordinário e ocasional, devido às necessidades e à pobreza das Igrejas jovens em terra de Missão. O Vaticano II, ao invés, considerou o envio como um gesto natural e ordinário, que responde a uma exigência intrínseca do ministério sacerdotal. Afirma, de fato, que é a essência mesma do sacerdócio ministerial que consagra e habilita para a missão mundial. O decreto conciliar Presbyterorum ordinis afirma que todos os presbíteros são preparados pela própria ordenação “não para uma missão limitada e restrita, mas para uma missão amplíssima e universal… até os confins da terra” (n. 10).

Como explicar esta dimensão “sem limites” do ministério sacerdotal? É ainda o Vaticano II que nos ajuda: o sacerdócio dos presbíteros é uma participação sacramental ao sacerdócio do bispo e seu ministério é uma colaboração nas tarefas do bispo. Se, portanto, os sucessores dos Apóstolos têm a incumbência de anunciar o Evangelho a todos os povos e devem “sentir -se unidos entre eles e interessar-se de todas as igrejas” (CD 5), necessariamente tais compromissos recaem sobre seus imediatos colaboradores, isto é os presbíteros. “Todos os bispos … – lembra o decreto Ad Gentes – foram consagrados não somente para uma diocese, mas para a salvação do mundo inteiro” (AG 38).

O nexo entre episcopado e missão é decisivo: através da plenitude do sacramento da Ordem, a missão é reconduzida à sua verdadeira fonte, que é a missão de Cristo e o projeto do Pai, que possui um horizonte universal.

A comunhão do bispo com o chefe do Colégio apostólico e com seus membros lembra à Igreja, que ele guia, que ela não pode realizar-se sem viver a comunhão com a Igreja inteira, e que, a imitação do seu Pastor, ela leva em si a ânsia missionária para com o mundo inteiro ”.

O CDC (1983), tratando da formação dos clérigos e inspirando-se na doutrina conciliar, faz três referências à missionariedade (cân. 245 § 1, 256 § 2 e 257), recomendando a aquisição de um espírito missionário, a informação acerca de questões missionárias e oferecendo sugestões para que os alunos “se tornem solícitos não só pela Igreja particular, a cujo serviço forem incardinados, mas também pela Igreja universal, e se mostrem prontos para se dedicarem às Igrejas particulares em que urja grave necessidade”.

Nesta linha, o cân. 271, no âmbito do capítulo sobre a incardinação, regulamenta a licença de transferência dos clérigos de uma Igreja particular para a outra. A transferência expressa a solicitude para com a Igreja universal e constitui “um vínculo de comunhão entre as Igrejas” e os sacerdotes fidei donum são considerados umas das “formas especiais e novas” da cooperação missionária.

A nota diretiva da Congregação do Clero Postquam apostoli , de 1980, convida cada sacerdote a alimentar em seu coração uma disponibilidade tão grande que “com o consentimento do próprio bispo, não recusará de ir para uma outra diocese para continuar seu ministério ” (n. 5).

Na mesma linha da Fidei donum, a Exortação Pastores dabo vobis (1992) afirma que o ministério dos presbíteros não se esgota no instituto da incardinação. A pertença e a dedicação à Igreja particular não confinam a esta, a atividade e a vida do sacerdote: não podem, de fato, ser confinadas, pela própria natureza quer da Igreja particular, quer do ministério sacerdotal. A este respeito, diz o Concílio: «O dom espiritual que os presbíteros receberam na ordenação não os prepara para uma missão limitada e restrita, mas sim para a imensa e universal missão da salvação ‘até aos confins da terra’ (At 1, 8); de fato, todo o ministério sacerdotal participa da mesma amplitude universal da missão confiada por Cristo aos apóstolos» .

Retomando o princípio conciliar da natureza da Igreja como comunhão “entre” e “de” Igrejas particulares, in quibus et ex quibus existe a única Igreja de Cristo, a Pastores dabo vobis exorta: «O padre deve amadurecer na consciência da comunhão que subsiste entre as várias Igrejas particulares, uma comunhão radicada no seu próprio ser de Igrejas que vivem in loco a Igreja única e universal de Cristo. Uma tal consciência de comunhão inter-eclesial favorecerá o “intercâmbio de dons”, a começar pelos dons vivos e pessoais que são os próprios sacerdotes. Daqui a disponibilidade, ou melhor, o empenho generoso na realização de uma equitativa distribuição do clero».

Também o Diretório Dives Ecclesiae (1994), para o ministério e a vida dos presbíteros, frisa a universalidade e a missionariedade sacerdotal. Retomando Pastores dabo v obis, lembra que «O dom espiritual, recebido pelos sacerdotes na ordenação, prepara-os para uma vastíssima e universal missão de salvação. Com efeito, pela Ordem e ministério recebido, todos os sacerdotes são associados ao Corpo Episcopal e, em comunhão hierárquica com ele, segundo a sua vocação e graça, servem para o bem de toda a Igreja. Portanto, o pertencer a uma Igreja particular mediante a incardinação não deve fechar o sacerdote numa mentalidade restrita e particularista, mas abri-lo ao serviço de outras Igrejas, porque toda a Igreja é a realização particular da única Igreja de Jesus Cristo, tanto que a Igreja universal vive e cumpre a sua missão nas e mediante as Igrejas particulares em comunhão efetiva com ela. Todos os sacerdotes, portanto, devem ter um coração e um espírito missionário, abrindo-se às necessidades da Igreja e do mundo».

Confirmando o princípio da communio Ecclesiarum e a dimensão universal do ministério presbiteral, o Diretório convida os presbíteros a viver «em total sintonia com a Igreja que sente a necessidade de enviar os seus ministros para os lugares onde é mais urgente a sua missão e de empenhar-se em realizar uma mais justa distribuição do clero»

A Carta Circular da Congregação para o Clero sobre “A identidade missionária do presbítero na Igreja como dimensão intrínseca do exercício dos tria munera ”, de 29 de junho de 2010, quer evidenciar a importância da dimensão missionária e a sua relação constitutiva com a identidade do ministro ordenado.

O documento insiste sobre a necessidade de uma renovada praxe missionária, prática baseada no discipulado e não tanto nas capacidades estratégicas e organizativas. A Carta entende a missão não somente como missio ad gentes, mas também como elemento que deve permear e qualificar toda a ação pastoral dos presbíteros chamada a ser sempre mais apostólica, isto é, missionária.

A missionariedade, enfim, é apresentada como característica estritamente ligada à catolicidade e apostolicidade da Igreja e, portanto, dos presbíteros que dela fazem parte e nela atuam através do munus docendi, sanctificandi e regendi.

Desde a V Conferência do CELAM em Aparecida (2007) fala-se muito em missão, em discípulos missionários, em paróquias missionárias, vocações missionárias…

A CNBB em seu último documento sobre a formação sacerdotal (Doc. 93) propõe uma formação pastoral que seja também missionária e com os três traços apontados no Documento de Aparecida: presbíteros discípulos, presbíteros missionários, presbíteros servidores da vida e cheios de misericórdia (cf. n. 199). Presbíteros ungidos para serem mestres da Palavra, ministros dos sacramentos e pastores das comunidades cristãs (cf. LG 28).

A formação presbiteral deve cada vez mais tomar consciência de que a formação pastoral- missionária constitui-se no princípio unificador de todo o processo formativo (Cf. CNBB, doc. 93, n. 300).

A formação missiológica dos futuros presbíteros se apresenta neste contexto, por conseguinte, extremamente necessária e urgente (cf. DAp 323). Para as Novas Diretrizes da Formação (Doc. 93, n. 44), “a vida e a missão do presbítero são marcadas por uma intencionalidade pastoral missionária, que deve configurar todo o processo formativo”.

Se queremos presbíteros discípulos, missionários e servidores da vida (cf. DAp 199), é preciso investir num processo formativo que gire sobre o eixo pastoral/missionário (cf. Doc. 98, n. 300). No processo formativo a missão é inseparável do discipulado; por isso, não deve ser entendida como uma etapa posterior à formação (DAp 278).

A Carta circular sobre a identidade missionária do presbítero (2010, n. 3.4), da Congregação para o Clero, lembra que: “Todos os presbíteros devem receber uma formação missionária específica e cuidadosa, dado que a Igreja quer empenhar-se, com renovado ardor e urgência, na missão ad gentes e numa evangelização missionária, dirigida a seus batizados, de modo particular àqueles que se afastaram da participação na vida e atividade da comunidade eclesial. Essa formação deveria ter início já no seminário, sobretudo mediante a direção espiritual e um estudo cuidadoso e aprofundado do sacramento da Ordem, a fim de salientar como a dinâmica missionária é intrínseca ao sacramento (cf. 2010, n. 3.4).

Também a Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis , O Dom da vocação presbiteral , da Congregação para o Clero (8 de dezembro de 2016), afirma que “o dom sacerdotal recebido com a Sagrada ordem inclui a dedicação à Igreja universal e, portanto abre à missão de salvação dirigida a todos os homens, até os confins da terra (At 1, 8)” (nº 71). Falando, depois, da “comunidade cristã reunida pelo Espírito para ser enviada em missão”, o documento afirma que “Esse impulso missionário diz respeito, de modo ainda mais especial, àqueles que são chamados ao ministério sacerdotal, como fim e horizonte de toda a formação. A missão revela-se como um outro fio condutor” (nº 91). “Os seminaristas sejam animados por um espírito autenticamente católico; amando sinceramente a própria Diocese, estejam dispostos, caso lhes venha a ser pedido ou se eles mesmos o desejarem, a colocar-se a serviço específico da Igreja Universal ou de outras igrejas particulares com generosidade e dedicação” (nº 123).

Conclusão
Os Padres Conciliares se perguntaram: “Igreja, quem és tu?” E a resposta foi uma só: “Missão!” Estamos aqui para anunciar o Evangelho. Na verdade, a Igreja não sabe fazer outra coisa, senão anunciar o Evangelho.

A missão é o rosto que a Igreja precisa recuperar. A missão é a força que nos impulsiona a ir aonde o Evangelho ainda não chegou, a sair daquilo que já temos para escutar a necessidade de Deus que a humanidade continuamente nos apresenta.

* Diocese de Estância (SE)

 

1 PIO XII, Carta Encíclica Fidei Donum , 21 de abril de 1957, n. 16.

2 Y. Congar, Proprietà essenziali della Chiesa, em Mysterium salutis VII, Brescia 1972, 491s.

3 M. Elia, Fidei donum: ogni chiesa é inviata a tutto il mondo , em www.webdiocesi.chiesacattolica.it/…/FIDEI-
DONUM-mondo.doc Ibidem.

5 CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS, Instrução Cooperatio missionalis, sobre a cooperação missionária, 1º de outubro de 1998, n. 17a, AAS 91 (1999), 321.

6 JOÃO PAULO II, Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais, 25 de março de 1992, n. 32.

7 Ibid. , 74.

8 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório Dives Ecclesiae, para o ministério e a vida dos Presbíteros, 31 de janeiro de 1994, n. 14. Ibid. , 15.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Relacionados

slot online situs slot gacor slot online slot gacor slot gacor situs judi slot gacor situs judi slot online situs judi toto slot gacor slot gacor judi slot slot online slot online judi slot slot gacor situs slot slot gacor 2022 slot gacor slot gacor slot gacor slot gacor slot gacor slot gacor situs slot gacor slot gacor https://cedu.uninorte.edu.co/wp-includes/ https://web.ics.purdue.edu/~asub/wp-includes http://blog.iconect.pctguama.org.br/ https://votoinformado.unam.mx/wp-includes https://epay.guaynabocity.gov.pr/epay/wp-includes https://reclamos.sistemasmlh.gob.ar/css/ slot pulsa slot deposit pulsa http://statconfig.sci.unhas.ac.id/assets/nexus-slot http://icob.sci.unhas.ac.id/nexus-slot/ https://www.aris.sc.gov.br/frontend/web/images/ https://aptta.org.ar/wp-includes/ https://icvb.org.tr/wp-includes https://filba.org.ar/images/ https://apps.santaisabel.sp.gov.br/ https://santaisabel.sp.gov.br/esd/ https://tzg.ttf.unizg.hr/wp-includes/ https://iif.edu/images https://mannaandbaby.or.jp/wp-content/uploads/slot-gacor/ toto slot gacor toto slot gacor toto slot gacor toto slot gacor toto slot gacor