Beato Charles de Foucauld, cujo centenário de morte (1916-2016) celebramos dia primeiro de dezembro, nasceu na França dia 15 de setembro de 1858. Sua escolha de vida foi ser irmão universal no coração do Saara entre os muçulmanos e os povos tuaregues.
Viver como pobre nas periferias entre os últimos, numa atitude de escuta e na prática do apostolado da amizade e da bondade foi seu grande legado missionário. Antecipou as instruções do Concílio Vaticano II de abertura e diálogo com o mundo, as religiões e as culturas.
Seu percurso espiritual é marcado por inquietações e buscas pelo amor a Jesus, escuta aos Evangelhos, deserto, adoração eucarística, silêncio, experiência da gratuidade do amor de Deus, fraternidade universal e proximidade com os pobres.
Carlos de Foucauld era filho de aristocrata e ficou órfão aos seis anos, sendo cuidado por seus avós. Herdeiro de uma grande fortuna, seguiu carreira militar, fazendo expedições na África e levando uma vida indisciplinada.
O princípio de sua conversão dá-se em Marrocos quando observa a veneração com que rezavam os mulçumanos. Ali exclamou: “Deus, se existe, faça com que te conheça”. Ao regressar à França procura um padre para discutir a existência de Deus e o padre Hüvelin lhe diz: “Te ajoelha e te confessa”. Ali faz a experiência da misericórdia de Deus, dando início a um longo caminho de busca sobre o verdadeiro rosto de Jesus de Nazaré. Buscou responder a sua vocação indo viver em Nazaré para imitar Jesus em seu cotidiano. Foi jardineiro das irmãs Clarissas que lhe deram uma pequena casa para morar. Depois continuou seu percurso de vida mais austera num mosteiro Trapista. Ali seguiu com inquietações e discernimentos para atender o apelo missionário. Voltou à França e ordenou-se presbítero, sendo logo enviado à Argélia onde ficou até o final de sua vida.
Irmão Carlos de Foucauld tornou-se um paradigma missionário para padres diocesanos, leigos e leigas, religiosos e religiosas que se põem no caminho do seguimento a Jesus Cristo. Exemplo disso são algumas intuições que podem ser observadas para nossas práticas missionárias:
Missão que brota do encontro. Seu processo tem a marca de várias conversões. Foi entendendo que a missão parte de Deus. Desde o seu primeiro encontro com Jesus, nunca mais parou de mover-se. Buscava entender a vontade de Deus e se abandona em Suas mãos. Evangelizou mais pela vida e testemunho, transbordando a experiência de ser amado e perdoado.
Missão como presença, ou seja, mais importante do que fazer coisas é ser testemunho e gritar o Evangelho por um estilo de vida simples.
Missão com diálogo. O missionário ad gentes que entra na casa do outro, sua primeira atitude é pedir licença. Apreender do outro, escutar as diferenças e dialogar, sem impor costumes e tradições.
Missão inculturada. Quando chegou à Argélia, começou a aprender o idioma dos Tuaregues, chegando a escrever os evangelhos em sua língua. O missionário ao chegar necessita primeiro aprender a nova língua e a apreender a nova mentalidade que encontra.
Missão sem espetáculos. Irmão Carlos optou por estilo de missão com meios pobres e seguindo o caminho de Jesus em Nazaré numa vida oculta de trabalhador, valorizando a presença de Deus no cotidiano, sem fazer barulho de eventos e espetáculos.
Missão como entrega total. Se fez pobre, dependente e frágil. De saúde frágil deixou-se cuidar e ser amado pelo povo tuaregue. Na juventude, antes da conversão, era considerado forte líder aristocrata francês. No final da vida e em tempos de guerra faz a experiência do fracasso, tendo um final trágico, assassinado no dia 1 de dezembro de 1916 por um disparo de projétil perdido.
Numa mudança de época onde crescem as mentalidades polarizadas, os fundamentalismos e intolerâncias culturais, políticas e religiosas, podemos aprender a dialogar com o que pensa e age diferente de nós, por isso, a opção por ser irmão universal é desafiadora e atual.
Pe. Maurício da Silva Jardim, diretor nacional das POM. Publicado no SIM – n.4, out-dez. de 2016.