Por Ir. Antonia Vania Alves de Sousa*
“Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1, 8).
O Espírito Santo é o protagonista da missão que impulsiona a Igreja a uma saída para fora de si mesma. E é através d’Ele que o anúncio salvador dos discípulos chegam até os confins do mundo. Há 200 anos, o fez também a jovem Pauline Marie Jaricot, com o coração inflamado pelo mesmo Espírito e cheio de amor por Jesus. Deu-se sem reservas a esta obra missionária nascida de um ardente desejo de cooperar com a missão de Deus, por meio da oração, sacrifício e solidariedade.
Sensibilizada com a realidade dos missionários na China e de tantos outros países, Pauline teve a grande inspiração, “sempre disposta a se dedicar inteiramente a tudo que se relaciona com a causa da fé” (cfr. Série fundadores/2009, p.15). No ano de 1818, em Saint-Vallier, ela toma a iniciativa, cheia de ardor, de começar uma rede de oração, sacrifício e de solidariedade, surgindo, então, o grande movimento missionário, a Obra da Propagação da fé.
Ao apresentar o plano audacioso da Propagação da Fé ao Padre Würtz, seu confessor e diretor espiritual, este a interpelou dizendo ser ela uma sonhadora, mas a abençoou: “Por isso, não só vos permito, como vos exorto vivamente para que o cumpras” (LATHOUD, 1937, p. 114). Ela já sabia que os desafios seriam muitos, mas contou também com o apoio do seu amado irmão Phileas. Não demorou muito para receber a aprovação dos Diretores de Missões Estrangeiras e, a partir de 1819, a coleta passa a ser realizada por dezenas de pessoas. Durante vários encontros e, em particular, aos domingos, Pauline Marie Jaricot expõe seu projeto, insistindo no fato de os missionários precisarem de dinheiro para continuar a missão na China e em outros lugares, a exemplo de São Francisco Xavier. O método de Pauline é explicado às pessoas reunidas que, então, são solicitadas a se comprometerem. O gesto concreto se efetiva em três partes: dar um centavo por semana, orar pelas missões e recrutar outros a seguir esse compromisso.
E para concretizar esse sonho, Pauline contou com o esforço de muitas pessoas abertas às necessidades dos irmãos e irmãs nas missões além-fronteiras. Trazemos aqui, um pouco desse desprendimento e sacrifício: “sobre a coleta, vejamos o exemplo de uma senhora que se propõe a comprar um gorro preto, em vez de um gorro branco de um centavo a mais. Ela vai economizar esse centavo para doar aos domingos”. E poderíamos continuar elencando tantos outros exemplos, oportunidades que possibilitaram realizar o primeiro pagamento de fundos às Missões Estrangeiras, feito por Phileas em sua chegada a Paris, em 20 de outubro de 1820. A Propagação da Fé vai ganhar impulso em Lyon e Saint-Vallier graças ao empenho de vários membros da família Jaricot. Tratava-se sobretudo de dedicar-se aos pobres e de dar atenção particular aos miseráveis e aos pagãos, como descreve Phileas a Pauline na carta de 19 de janeiro de 1821: “(…) Jesus Cristo está nu e passa fome, enquanto seus familiares e eu mantemos um mobiliário de luxo, que sempre será inútil para mim! Tanto Phileas quanto Pauline estão dispostos a sacrificar-se para Glória de Deus e salvação das crianças e dos mais necessitados em diversos espaços da França, China e até os confins do mundo.
A inabalável confiança na Divina Providência fortalecia cada vez mais essa jovem de coração cheio de amor e ardor, inflamada pela força do Espírito Santo que a impelia cada vez mais a ir até os confins da terra, numa rede de Oração, Sacrifício e Solidariedade que multiplica vida.
* Secretária Nacional da IAM
Reflexão a partir do texto do livro Conheça mais um pouco – Pauline Marie Jaricot: meditações diárias sobre a natureza missionária da Igreja, autor Dr. Pierre Diarra, Pontifícias Obras Missionárias