Missão: testemunho e sacrifício

Por Marco Antônio Scarpari Amboni* 

Dar testemunho do Evangelho de Cristo nos dias atuais é um desafio gigantesco. Enfrentar um mundo que está rodeado de uma exigência em que a rapidez e a perda das motivações de uma relação de encontro com o próximo, permeadas pelos relativismos existenciais e espirituais, trazem para a vida humana uma enorme ferida e é o que está afetando não somente a Igreja na Amazônia, mas, também, a Igreja no mundo inteiro como se pode comprovar pelas falas de nosso querido Santo Padre, o Papa Francisco.

Entre os dias 05 a 17 de janeiro de 2023, estive participando na Arquidiocese de Manaus (AM), na I Experiência Missionária-Vocacional Nacional promovida pela Igreja do Brasil. Lá, tive uma grande graça de estar entre os mais de 280 irmãos seminaristas, sacerdotes e bispos. Oportunidade esta, que guardarei em meu coração todas as experiências que vivenciei.

Sair da Diocese de Criciúma (SC) da qual pertenço não é algo tão fácil. Sair de um Estado que fica praticamente no outro extremo do país é algo desafiador em questões financeiras, porém vale a pena se esforçar por algo que irá fazer com que amadureça cada vez mais a nossa vocação. Vale a pena o sacrifício. Por isso, são necessárias algumas saídas.

Como todo seminarista, esta época é um tempo de estar com os nossos familiares e amigos para estar descansando e se preparando para o início do próximo ano formativo. Com isso, eis a primeira saída. Ao deparar com uma cultura e alimentos diferentes dos que estamos acostumados é algo desafiador para qualquer ser humano, pois precisamos nos adaptar e rever nossa abertura de acolhimento ao diferente. Eis a segunda saída. Ver algumas maneiras de celebrar a fé também é algo que mexe com a nossa estrutura celebrativa, mas que se tem um enorme significado espiritual. Eis a terceira saída.

São apenas três saídas, mas que fazem total diferença em nossa vida vocacional-missionária, uma mudança de olhar e de vida. Uma conversão para a sensibilidade de estarmos atentos aos presentes e surpresas de Deus.

Para expressar a vivência missionária que tive durante aquele período, utilizo de uma passagem bíblica que poderia resumir essa experiência, que está na carta aos Romanos: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas, como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? Como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: “Como são belos os pés dos que anunciam boas-novas!” (Cf. Rm 10,13-15).

A partir dessa fala que Paulo se dirige aos fiéis de Roma para manterem fiéis ao Evangelho de Cristo, ele também faz alguns questionamentos que mexem conosco sobre o ardor e a disponibilidade de ser missionário. Na Igreja de Cristo, necessita-se de homens e mulheres que tenham a coragem de se dispor à ir ao encontro daqueles que não creem e nunca ouviram falar de Jesus Cristo. Juntamente com os participantes, presenciamos leigos e leigas que estiveram ao nosso lado todos os dias e em todos os momentos, quanta graça de tê-los.

A maioria dessas pessoas deixaram naqueles dias o seu trabalho, seus afazeres de casa, seus compromissos, estudos e inclusive seu descanso das férias. Eles nos guiaram em direção ao que Paulo interpela: ir ao encontro daqueles que nunca ouviram falar e não creem. Com o auxílio deles, conseguimos alcançar muitos corações que estavam perdidos e, principalmente, abandonados.

No entanto, neste momento abro o “jogo” para você leitor, muitas pessoas falavam e comentavam: “nossa, essas palavras eram as que eu estava precisando escutar”. Pregar e ser enviado, eis duas ações que mexem conosco de modo profundo. Ser enviado seja para uma atividade pastoral ou para as missões, é necessário um movimento interior de aceitar o chamado que Deus nos faz e, também, ter a vontade de ir cumprir aquilo que é pedido. Contudo, é no pregar que ficamos apreensivos e muitas vezes com medo, pois não sabemos em qual casa iremos parar; não se sabe a realidade de cada família e o contexto em que ela vive naquele momento; e ainda não saberemos se seremos acolhidos de forma cordial. Pregar exige uma entrega total de si ao Espírito Santo, porque Ele irá conduzir tudo e todos. Quanta ousadia das pessoas que estiveram conosco de se estregarem ao Espírito do Senhor! É nessa ousadia que muitos nos ouviram e creram.

A última frase que a passagem bíblica nos traz é um tanto diferente se formos ter um olhar sob a perspectiva da realidade: a beleza dos pés. Quantas estradas de chão ou asfalto, pontes, travessias, barcos, carros, ônibus, rios, riachos nossos pés pisaram em dias de chuva ou de sol. E os nossos pés? Cheios de poeira, água, lama, machucados, latejando após um dia inteiro de missão. Porém, com todas essas marcas é que a beleza surge, os nossos pés revelam a verdadeira realidade das pessoas que vivem todos os dias na região amazônica, ou ainda de outro ponto de vista, são essas marcas e pegadas que deixamos na vida de cada um que nos recebeu e acolheu, na qual teve esforço e desafios até chegar perto deles.

Por fim, o nosso maior objetivo, não somente nessa I Experiência Missionária-Vocacional Nacional, mas em todos os lugares que estivermos, é a salvação das almas. Nós fomos enviados para pregar o Evangelho da graça de Deus com auxílio do Espírito Santo, para que as pessoas pudessem ouvir falar e crerem em Cristo e, assim, aprenderem a invocá-Lo para serem salvas.

Que Maria Santíssima, Mãe da Amazônia, São José, seu amado esposo, intercedam por todas as pessoas que organizaram e participaram dessa experiência.

* Seminarista do 2º ano da etapa da configuração, Diocese de Criciúma (SC)

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