Dia das Mães: reflexões marianas

Por Pe. Nelito Dornelas

“Teu Filho nasceu e continuas grávida – cheia de graça e cheia de Deus” (Dom Helder Câmara)

Neste treze de maio reúnem-se várias comemorações: 130 anos da abolição da escravatura, 102 anos da aparição de Maria em Fátima, dia das mães, festa da ascensão de Jesus e dia mundial das comunicações sociais.

Ao celebrar Nossa Senhora de Fátima, trazemos à memória a princesa de Fátima, uma muçulmana que viveu naquele sitio e gozava de afeto e devoção de seu povo. Maria se apresenta neste mesmo lugar aos três pastorzinhos com os mesmos traços da princesa islã. Hoje este santuário é um lugar privilegiado de peregrinação, acolhimento e diálogo dos imigrantes muçulmanos que chegam à Europa. Que bela lição!

Celebrando o dia das mães, nosso olhar se volta para a devoção popular, que sente a proximidade de Maria, aquela que Jesus nos deu como mãe, conforme nos recorda o evangelista João (19, 26).

A partir daí, pode-se afirmar que Jesus, pensando na nova família, por ele inaugurada, para além do estreito círculo nuclear, mas que, a partir da comunidade eclesial estaria aberta a todos, numa dimensão universal, transfere a Maria esta missão aglutinadora e mobilizadora das mais nobres energias do Reino.

Existencialmente sabemos que a mãe é como o coração da casa. É aquela que está perto de todos em todos os momentos, especialmente nas horas de sofrimento, de incertezas e de luta. Por isso, Maria, como mãe, é quem realmente congrega o povo crente. Ela tem um maior poder de convocação das pessoas do que qualquer líder da história. Alias, na história do ocidente, sobretudo em nosso continente, não só os líderes hierárquicos, mas também os líderes carismáticos populares reuniram o povo em torno da imagem de Maria para realizar os compromissos ou campanhas a serviço do próprio povo e de sua libertação.

Lembramos aqui o Padre Hidalgo, o Emiliano Zapata, Padre Cícero, Antônio Conselheiro e tantos outros líderes que fizeram suas marchas para libertação do povo levando à frente uma imagem de Maria, seja da Virgem de Guadalupe, de Nossa Senhora das Grotas, de Aparecida, do Círio de Nazaré, e tantas outras invocações ao sagrado coração de Maria, mãe e libertadora, protetora dos pobres e dos desvalidos.
O povo sente que nada se pode negar a ela, à mãe, pois quando todo poder humano de repressão se abateu sobre seu filho, Jesus crucificando, quando ninguém aguentava ficar com Ele, Maria permaneceu ao lado de sua cruz até o fim. Nada pode separá-la, inclusive hoje, do lugar onde seus outros filhos e filhas estão crucificados.

Depois da tragédia da sexta-feira santa, Maria continua em sua espera fecunda até a marcha da Ressurreição, convocando-nos a permanecermos unidos, praticando ações imediatas e possíveis, concatenadas e progressivas, apontando para a Utopia final cantada por ela no Magnificat: de agora em diante todas as gerações me chamarão de bem aventurada, pois o Poderoso fez em mim maravilhas e santo é o seu nome! Derrubou dos tronos os poderosos e exaltou os humildes.

E na permanente abolição de todas as escravidões, assim proclama hoje o pastor, poeta e profeta Pedro Casaldáliga: Maria, filha do povo saído da primeira escravidão. Filha do povo caído na segunda dominação. Filha do pai Abraão, retirante à procura, sempre clara, sempre escura, de uma outra promissão. Retirantes a caminho, todos nós, pobres e réus, buscamos no teu carinho a casa e a paz de Deus, a mesa do Pão e o vinho, nascidos no ventre teu, a terra certa na Terra e a Nova Terra dos céus.

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