Atraídos pelo abismo

de Ivo Poletto *

Não sei se vocês compartilham comigo, mas continuo impressionado com a afirmação do pesquisador Antônio Donato Nobre nos dias em que a cidade de São Paulo esteve ameaçada de falta de água: se não fizermos logo o que deve ser feito, estaremos indo direto para o matadouro. E ele logo completava: já não basta o desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado; precisamos recriar florestas na Amazônia e em todos os espaços possíveis do país. E eu acrescento, certamente com aprovação dele: precisamos enfrentar o desafio do transporte urbano e de mercadorias, passando a usar motores elétricos, e com produção de energia a partir do sol e dos ventos, dando prioridade à energia descentralizada, perto do consumo, nos telhados, nas comunidades; precisamos avançar na agroecologia, diminuindo ou fechando o agronegócio de grãos, de gado, de celulose, de etanol…

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Mas está ficando cada dia mais claro que há gente poderosa que não quer ouvir nem saber por que estamos indo direto para o matadouro. Ou sabem, e assim mesmo estão decididos a continuar fazendo o que nos leva para lá. As propostas e as decisões que estão sendo encaminhadas pelo governo ilegítimo Temer e pelo Congresso Nacional deixam claro que esses políticos, com raras exceções, fazem parte desse grupo de poderosos que estão decididos a ir direto para o matadouro. Bem, se fossem sozinhos, seria de lastimar, mas iriam por seu querer. Mas o pior é que não irão sozinhos. Se forem aprovadas todas ou a maioria das propostas – e algumas já o foram -, eles levarão a todos nós ao matadouro.

Para não insistir nessa imagem de matadouro, com sangue e sofrimento, prefiro dizer que há gente poderosa atraída por abismos, e se as suas decisões e práticas continuarem marcando o rumo de nossa vida, seremos atraídos igualmente para o abismo. Será o abismo dos desastres socioambientais. Isto é, eles nos levarão a não mais podermos viver na Terra porque o clima ficará quente até o ponto de não aguentarmos, e a maioria das pessoas também porque será impedida de sair da miséria.

Indico apenas duas dessas decisões e propostas. A primeira é a de os grandes poderão fazer o que quiserem em relação aos biomas, na Amazônia e em todo o país, já que não haverá leis ambientais. A segunda é que os grandes poderão usar as pessoas como quiserem, até mesmo fazendo-as trabalhar apenas em troca de comida. Sem travas para acabar com as florestas e sem travas para explorar as pessoas, eles nos levarão mais rapidamente para o abismo.

* Ivo Poletto, Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS): www.fmclimaticas.org.br

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