A vocação missionária nas juventudes e a cooperação das POM

Por Pe. Badacer Neto*

O chamado de Deus acolhido e o caminho iniciado pela jovem Paulina Maria Jaricot (1799-1862), na França de 1822, cresceu, floresceu e tornou-se a Pontifícia Obra da Propagação da Fé. Junto a ela, o Espírito de Deus suscitou outras três que, colocadas à disposição da vocação missionária, fizeram nascer as Pontifícias Obras da Infância Missionária (D. Carlos Augusto Maria de Forbin-Janson), Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo (Joana Bigard) e Pontifícia União Missionária (Beato Pe. Paulo Manna), as quais, juntas, tornaram-se as Pontifícias Obras Missionárias ou POM, como costumamos chamar no Brasil.

Foto3Essas Obras se espalharam pelo mudo como organismos oficiais de animação missionária da Igreja, ligadas diretamente ao Papa. São obras de animação e cooperação missionárias propostas pelo pontífice para toda a Igreja, a fim de estimular e a se colocar sempre em atitude orante pela ação missionária, bem como a se abrir materialmente, em solidariedade concreta, para a difusão da Boa Nova e a promoção da vida.

Este ano, no Brasil, as POM celebram seus 40 anos de presença, motivando a Igreja no Brasil a não se fechar em si mesma, mas a manter sua identidade de discípula-missionária por meio de inúmeras atividades e pela Campanha missionária, com a novena e coleta missionária realizadas todo ano durante o mês de outubro, ajudando-nos a testemunhar aquilo que nos ensina o magistério: “A Igreja é essencialmente missionária” (AG2).

Na celebração desses quarenta anos, queremos fazer memória dos passos dados, do caminho percorrido pelas juventudes animadas pela Pontifícia Obra da Propagação da Fé, pois, como nos diz São João em sua primeira carta, “o que vimos e ouvimos, vos anunciamos” (1Jo1,3).

Partilhar a vida missionária é sempre um motivo de alegria e um voltar ao que nos é fundamental, que é nossa vocação. Trata-se de pensar sobre a nossa identidade, aquilo que nos define dentro de nossa história. Obviamente que tal consciência tende a crescer durante o processo formativo e à medida que nos lançamos na vida missionária, pois, “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá um novo horizonte à vida e, dessa forma, o rumo decisivo” (Bento XVI, DCE1), Jesus Cristo. Mas, infelizmente, ainda persiste a mentalidade de que a missão é apenas uma tarefa confiada a um pequeno grupo dentro da Igreja.

A vida missionária se centra nesse encontro decisivo em que somos chamados a anunciar. A comunidade cristã, Igreja, nasce para isso, para testemunhar profeticamente a pessoa de Jesus Cristo. Passamos, ou deveríamos passar, a vida inteira a testemunhar que Ele viveu, morreu, ressuscitou e continua presente em nossa história, sobretudo no meio daqueles que, por causa das injustiças e das maldades dos corações humanos, ficam às margens do caminho, condenados às periferias geográficas e existenciais.

A Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF), buscando tornar a pessoa de Jesus Cristo, bem como todo o seu ensinamento ainda mais conhecido e amado, desenvolve atividades de animação, formação, informação e cooperação missionárias no Brasil junto às juventudes, famílias, idosos e enfermos, sendo a atividade com as juventudes a de maior expressividade, pois está presente em todos os estados do Brasil.

Dentre as atividades desenvolvidas pela POPF aqui no Brasil, nesses quarenta anos, destacamos a Juventude Missionária (JM) que busca despertar, animar e formar as juventudes em seu ser missionário, uma vez que a missão não é apenas um adorno ou uma dimensão do ser cristão, mas sua própria essência, aquilo sem o qual não somos nós mesmos, pois a “atividade missionária é a principal e a mais sagrada atividade da Igreja” (AG 29).

Se utilizando da metodologia das quatro áreas integradas (realidade missionária – Ver, Espiritualidade missionária – Julgar, compromisso missionária – Agir, e o testemunho missionário – Celebrar), a JM vai traduzindo, no hoje de nossa história, as inspirações que outrora a Jovem Paulina Jaricot teve no seio de seu lar. Contribuir com a atividade missionária da igreja por meio de uma vida de oração intensa no meio do mundo e de ofertas semanais, fruto do sacrifício pessoal (como testemunho e comprometimento da vida) para cooperar com a missão no Oriente, ajudando no anúncio do Evangelho e na garantia da vida de muitas crianças chinesas que estavam em perigo de morte.

Foto2No Brasil, esse caminho iniciou-se junto às juventudes, de modo específico, no primeiro encontro de jovens oriundos da Infância e Adolescência Missionária e dos diversos estados, desejosos de continuarem firmes na vida missionária. Esse encontro aconteceu nos dias 27 a 29 de maio de 2005 na sede das POM em Brasília, com o então diretor padre Daniel Lagni, o qual expressou: “Neste encontro pretendemos trabalha a partir das experiências de JM já existentes. E isto já é uma realidade, por isso a importância de organizarmos uma equipe de coordenação de âmbito nacional. Sendo assim, o objetivo deste encontro é dar início à organização articulada da JM”.

Dessa maneira, a JM tem seguido seu caminho que, por meio de seus pequenos grupos espalhados pelo país, forma uma verdadeira constelação que ilumina e anima a vida missionária juvenil, despertando para uma consciência de fraternidade e solidariedade universal, por meio de inúmeras experiências missionárias desenvolvidas em suas realidades locais, desde suas comunidades paroquiais, passando pela experiência diocesana, estadual, regional, interestadual e nacional, com a Experiência da Missão Sem Fronteiras, já em sua quarta edição, e internacional, como é o caso do Projeto Juventudes Ad Gentes que este ano enviou duas jovens para uma experiência missionária de três meses no Haiti.

Esses grupos se reúnem semanalmente para rezar e se formar sobre sua fé, bem como sobre a realidade atual e a missão universal da Igreja, realizando trabalhos missionários em suas comunidades e, mensalmente, depositando em um “cofrinho” o fruto de seu sacrifício pessoal em prol das missões no mundo, como um gesto de solidariedade concreto.

Assim, as meninas que estiveram no Haiti, representando a JM do Brasil, oferecem suas vidas como testemunho profético na ajuda em inúmeros projetos desenvolvidos pela comunidade intercongregacional da CRB que lá está, e o fruto da corrente solidária foi destinado ao projeto de geração de renda da juventude haitiana. Tal ação nasceu simples e ainda parecer, mas se mostrou eficaz na tradução concreta do mandamento novo de Jesus de amar ao próximo como a si mesmo. Oxalá nossa POM continue sendo fiel a sua vocação de despertar, animar, formar e informar a vida missionária no seio do povo de Deus que é toda a Igreja. Que outros quarenta anos sejam construídos com o nosso testemunho missionário. Que nossos padroeiros, Santa Terezinha do Menino Jesus e São Francisco Xavier, continuem a nos inspirar para “não nos deixarmos roubar o entusiasmo missionário” (EG 80).

* Secretário da Pontifícia Obra da Propagação da Fé

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