4º CMN: A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída

O tema do 4º Congresso Missionário Nacional (4º CMN) “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída” toca o coração da missão. Refere-se ao estado de ânimo dos discípulos missionários que se dispõem a anunciar o Evangelho em diversos contextos e circunstâncias. A programação do Congresso, nos dias 7 a 10 de setembro em Recife (PE), inclui testemunhos, oficinas, celebrações e cinco conferências. Dom José Antônio Peruzzo, arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-Catequética da CNBB) é um dos conferencistas. Publicamos, a seguir, uma de suas reflexões sobre o tema do 4º CMN.

dom peruzzoAs palavras do papa Francisco acerca da alegria já se tornaram proverbiais e conhecidas. Em suas reflexões espontâneas ou meditadas, a alegria é um tema de grande recorrência. Até para evangelizar, que é a grande missão da Igreja, caso falte a alegria, tudo parece perder cor e vigor. Vale observar suas palavras: “E que o mundo do nosso tempo, que procura ora na angústia ora com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo”.

Aliás, alegria é uma das mais espontâneas reações daqueles personagens dos Evangelhos que por primeiro tiveram “notícias” acerca de Jesus Cristo. Mas não apenas isso. A alegria é, por excelência, um dos traços mais comuns do que é para anunciar. Lucas é quem melhor retrata essa característica. Bastam algumas observações. Eis as palavras do Anjo a Zacarias: “Terás alegria e regozijo e muitos se alegrarão com o seu nascimento” ( Lc 1, 14). Para a jovem de Nazaré as palavras foram estas: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28). Aos pastores a voz eloquente do Anjo ressoou assim: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria…” (Lc 2,10). Essas breves recordações apontam para uma percepção quase imediata: não há como levar boas notícias sem alegria. O Anjo, mensageiro de Deus, apresentou-se com essa linguagem.

Sempre nos deixando ajudar por Lucas, vale observar que, quando os discípulos de Jesus partiram em missão pela primeira vez, a eles soou forte a recomendação: “Não leveis para a viagem nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas…” (Lc 9,3). Qual seria, pois, sua segurança? Esta viria somente da mensagem que levariam. E o próprio Lucas relata o caminho dos discípulos: “Eles então partiram… de povoado em povoado, anunciando a Boa Nova…” (Lc 9,6). Em termos práticos, a expressão “Boa Nova” equivale a levar boas notícias da parte de Deus. Ora, seria um contrassenso transmitir boas notícias sem alegria. Seria a negação da própria Boa Nova.

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Atento a essa percepção, o próprio Lucas salienta a experiência de outros evangelizadores, agora setenta e dois. Também eles teriam como única segurança a boa notícia que a realeza de Deus se fizera próxima (Lc 10,9). E “os setenta e dois voltaram com alegria” (Lc 10,17). Na realidade, é para ela, para a alegria, que o homem foi feito. Sem ela, até a vida, a vocação e a missão pronunciam o vazio e a frustração. Se o anúncio não for alegre estaríamos apenas a propagandear ideias e informações sobre Jesus. Seria tão somente uma palavra proposta, mas sem a adesão do coração e dos afetos; seria um anúncio sem encanto; algo semelhante a levar uma boa notícia com rosto triste.

Longe de ser apenas um estado psicológico ou existencial, a alegria do Evangelho se deixa vislumbrar como uma opção do próprio Deus. É esta a intuição do evangelista. Ele nos convida para uma visita ao início do capítulo 15. Os fariseus e escribas, homens muito religiosos, mas amargos legalistas, “murmuravam” porque Jesus festejava com os publicanos e pecadores as grandes notícias da parte de Deus. A eles, pecadores, o Evangelho de Jesus lhes trazia grande alegria. A resposta do Senhor veio em forma de parábola: um pastor, percebendo a falta de uma ovelha, pôs-se em saída, à procura da que se perdeu. O verbo empregado pelo evangelista destaca que é uma busca inquieta, ansiosa, perseverante. De fato, todas as outras causas tornaram-se menores face a grande prioridade: buscá-la “até encontrá-la” (15,4).

Cartaz 4CMN siteAcerca dessa prioridade, que Lucas destaca como uma escolha do Pai, é muito interessante observar a redação da parábola da ovelha perdida. Começa com uma interrogação: “Qual de vós…?” (Lc 15,4). É uma pergunta que aponta para uma resposta evidente. Em seguida é o pastor que se põe em movimento: deixa as noventa e nove; parte ansioso em busca daquela que se perdeu; encontrando-a, alegre, coloca-a nos ombros; volta para casa; convoca amigos; “alegrai-vos comigo por que encontrei…”. É uma impressionante sequência verbal que evidencia o alto significado conferido por Jesus à “saída para buscar quem se perdeu”. O objetivo é bem definido: procurar “até encontrar”.

A opção do próprio Deus pela alegria do Evangelho podemos vê-la no v. 7: “Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu…”. A leitura mais espontânea nos leva a olhar para a nova condição da ovelha, após ter sido encontrada. Mas o evangelista expõe uma outra intuição maravilhosa: “no céu”, isto é, segundo a lógica amorosa de Deus, a alegria superior é aquela referente ao encontro de quem se perdeu. É importante notar que essa “lógica”, isto é, a da opção de Deus em “pôr-se em saída”, procurar com afã até encontrar e “alegrar-se” festivamente, é de tal relevância que o evangelista se apoiou em três parábolas, colocadas em sequência, sem qualquer interrupção (Lc 15,4-32).

É até comovente a conclusão do capítulo 15: “Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos…”. Ou seja, se não formos uma Igreja em saída tampouco experimentaremos a alegria do Evangelho. E também “no céu” não haveria alegria com os evangelizadores. Seria uma Igreja muito adaptada aos esquemas dos fariseus e escribas.

Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. Publicado no SIM n. 4 – out. – dez. de 2016.

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