A África em miniatura: a riqueza cultural dos Camarões

Por Marcelo Ávila*

Camarões é um país localizado na África central que se diferencia dos outros países africanos pelo seu rico ecossistema e pela diversidade de etnias que habitam um território de aproximadamente 475.000 quilômetros quadrados. Toda essa riqueza cultural deu ao país o apelido de África em miniatura pois é possível encontrar nos Camarões todas as características do continente africano.

As línguas oficiais do país são o francês e o inglês que se misturam com mais de 250 línguas locais faladas nas diferentes tribos e regiões. As tribos de uma mesma região podem apresentar alguns elementos em comum, porém, existem particularidades que impressionam e encantam em cada cultura. Toda essa riqueza cultural é visível a partir de vários elementos: variedade de línguas, culinária, arquitetura tradicional, folclore, artesanato, ritos, religiões tradicionais etc.

Nas regiões oeste e norte estão localizados os grandes centros de artesanato do país. Cidades como Bafoussam, Bamenda, Foumban e Marua se destacam pela riqueza de seus objetos de artesanato e alguns monumentos antigos. Objetos e monumentos que traduzem as cenas da vida cotidiana e a história dos guerreiros de cada tribo. Também, os grandes festivais de folclore de cada região exprimem os diferentes modos de vida, de compreensão do mundo e de relação com o sagrado.

O rico ecossistema dos Camarões é formado pelo litoral, florestas, montanhas e a savana. Camarões possui 400 quilômetros de costa atlântica e as cidades de Kribi e Limbe representam os dois polos turísticos da região litorânea. As grandes florestas estão presentes na região do centro, leste e sul do país. Na região das grandes florestas vivem os povos pigmeus, os primitivos habitantes das florestas que se destacam pela baixa estatura. As regiões montanhosas abrigam grandes lagos e cachoeiras espetaculares. Já a savana, que é sem dúvida uma das áreas mais fascinantes, abriga os grandes animais como os leões, girafas, elefantes, antílopes etc. Nos extremo norte do país é possível encontrar também uma planície inundada pelo rio Longone, região onde vivem várias tribos tradicionais.

A colonização dos Camarões teve três momentos importantes: Em 1500 os portugueses chegaram, mas, por causa da malária, desistiram da colonização; em 1884 o país tornou-se colônia da Alemanha e, depois da primeira guerra mundial, o país foi dividido entre França e Inglaterra. A independência aconteceu somente em 1960. Camarões é um país que conheceu somente dois presidentes depois da independência. O primeiro presidente, Ahmadou Ahidjo, ficou 21 anos no poder e o segundo, Paul Biya, já faz 35 anos que está no poder e mesmo com 85 anos está disposto a disputar as eleições de 2018. O nome do país, Camarões, foi dado pelos portugueses e faz referência a um rio apelidado de rio dos camarões onde os primeiros colonizadores encontraram muitos camarões.

Os missionários xaverianos iniciaram a missão nos Camarões em 1982 em três regiões diferentes. No norte do país, sobretudo no meio rural e em regiões onde a evangelização ainda não tinha começado; nas regiões oeste e sul onde as comunidades eclesiais de base começavam a florescer e na região do centro onde o trabalho missionário estava orientado para as periferias e os grandes centros urbanos. Na medida em que a missão nos Camarões se organizava, um grupo de missionários começou também a missão no Chade, país muçulmano que tem a maior parte do seu território ocupado pelo deserto do Saara.

Com toda riqueza cultural detalhada, podemos perceber que o turismo teria uma grande capacidade de desenvolver o país, porém, os problemas relacionados com o terrorismo do grupo Boko Haram e com a recente crise na região inglesa tem impedido a exploração de todos os recursos naturais do país. Alguns pontos turísticos no norte e extremo norte se encontram abandonados e o medo e a insegurança continuam afastando um grande número de turistas. Também, as péssimas condições das estradas e de algumas infraestruturas mostram claramente que o potencial turístico e cultural não representa uma prioridade para o governo.

Contudo, o missionário deve conhecer profundamente os diferentes aspectos da cultura do país onde ele foi enviado. Conhecendo a cultura, temos diante de nós uma janela aberta para descobrirmos o outro em uma relação de respeito e de fraternidade. É por isso que o processo de enculturação é fundamental para a missão ad gentes. Sem enculturação, o processo de evangelização corre o risco de cometer os mesmos erros do passado, sobretudo a repetição do modelo “tábua rasa” onde a evangelização deve começar do zero, sem considerar os elementos fundamentais da cultura e das manifestações do sagrado que caracterizam os diferentes povos aos quais somos enviados em missão.

Podemos concluir dizendo que Camarões é um país em construção! Um país que possui um potencial extremamente rico e que necessita, urgentemente, de uma política que favoreça o bem comum dos povos que aqui vivem. Uma política com mais autonomia e menos interferência das antigas metrópoles que, silenciosamente, continuam colonizando e explorando. É preciso acreditar e lutar para que essa construção se torne realidade, além do mais, sou um missionário e acredito que o olhar de um missionário deve ser sempre um olhar entusiasmado, cheio de vida, de ternura e de muita esperança.

* Missionário xaveriano, fez experiencia missionária nos Camarões.

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