Missionária brasileira em missão na Costa do Marfim

Esta frase, “tudo o que Deus faz é bom”, alimenta minha fé e me fala de “uma Igreja em saída”, porque é repetida pelo povo que tive a graça de encontrar na Costa do Marfim, um país de cultura riquíssima na África. Reúne cerca de 64 etnias, com idiomas e tradições diferentes, tendo por idioma oficial o francês. O país é conhecido pelos elefantes (daí o nome Costa do Marfim) e pela boa acolhida ao estrangeiro, a qual experimentei pessoalmente. A primeira palavra que se diz a quem chega é akwaba (bem-vindo). De fato, o chefe de um dos povoados em Korhogo, cidade no extremo norte do país, cumprimentou-me com um provérbio da sua etnia: “Akwaba! Você é a pessoa mais importante, porque percorreu uma longa estrada para encontrar o meu povo”. O país é o maior produtor mundial de cacau e grande produtor de café, porém, neste ano de 2017, vive uma terrível e inesperada crise econômica pela queda da exportação do cacau, o que aumenta ainda mais o sofrimento desses irmãos.

4c_líderesLEIGOS

Nossa missão é em Yopougon, na periferia da capital, em um dos muitos povoados Atchan (Akam, que significa “os escolhidos”). Eles foram chamados por um outro povo, com um nome pejorativo: ébrié (aqueles que estão sujos). O nosso povoado se chama Kouté e é famoso pelo attiekê, comida típica à base de mandioca, que é acompanhada com molho de tomate e peixe frito. Para a grande maioria, um prato de attieké é a única refeição do dia. Como consequência, uma das graves realidades é a falta de saúde das pessoas, com a anemia sendo severa e ainda outras doenças que são uma cruz quotidiana. Marie é uma jovem que vende bananas na rua, mas tem um grave problema nos ossos, precisando de uma operação na perna que custa R$ 4 mil, porém, ela arrecada somente R$ 100 por mês. É um sofrimento grande viver sem enxergar saídas para os problemas da vida. Quando cheguei em Kouté, a cada semana chegava a notícia de alguém que tinha falecido. Ao encontrar as famílias, nota-se que é muito difícil ter condições de uma alimentação saudável com legumes e verduras, feijão, carne… No fim do ano, uma expressão típica é: “vai ter o frango de Natal”.

O trabalho da missão começa por uma evangelização de primeiro anúncio e passa por uma constante busca de respostas às necessidades mais urgentes. Vimos como prioridade um Centro Médico e o incentivo na área da educação. Nasceu a paróquia São Lourenço, que festejou 25 anos de história, com um grupo de líderes muito ativos. 2_MARIEMesmo se as missas são cheias e muito alegres, grande parte das pessoas ainda não frequenta a catequese. Nasceu também um grupo missionário que a cada ano organiza atividades para ajudar outros países. É interessante ver na prática que “é dando a fé que ela se fortalece” (RMi 2) e que se pode “dar a partir da própria pobreza” (Puebla 368) porque quem conhece e ama o Cristo se torna “uma Igreja em saída”, como diz o papa Francisco. Além da biblioteca e curso de alfabetização oferecidos o ano todo, no período das férias, organizamos momentos de atividades com as crianças, que ficaram contentes em ter um espaço de liberdade, festa e brincadeiras. E como o povo demonstrou amar futebol, foi organizado o Torneio Itajubi (braço de pedra) com os meninos de 8 a 14 anos, patrocinado por uma família de Belo Horizonte, que ofereceu camisas, bola e troféu.

Agradeço aos amigos da Missão que sustentam, à distância, nossos passos com oração e partilha. Em ébrié, se diz: “nanci ohohoh” (Obrigado ohohoh)!

Irmã Andréia Luciene, natural de Belo Horizonte (MG) é missionária da Comunidade Villaregia na Costa do Marfim. Publicado no SIM nº 2. abr – jun 2017.

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