Missão para além-fronteiras

Sou a irmã Bernadette Ide Fadegnon, da República do Benin, na África Ocidental, tenho 32 anos e pertenço à Congregação das Missionárias Médicas de Maria (MMM). Sou a quinta dos sete filhos vivos da minha mãe. Minha história missionária começou aos cinco anos de idade, pois minha família é católica ativa, quando entrei no grupo da Infância Missionária do Benin. O que me atraiu para esse grupo foi inicialmente para aprender canções, dançar e viajar para outras comunidades para as competições de dança, para integração e convivência com outras crianças.

Bernadete2Esse movimento se tornou o principal formador da minha fé e desejo de servir a Deus, pois também nos ensinavam valores cristãos. Acredito que minha vocação missionária nasceu dessas experiências e cresceu ainda mais quando fui transferida desse grupo para o coral dos jovens, pois minha idade já não me permitia continuar na Infância Missionária.

No coral da juventude, uma irmã das MMMs vinha ensinar-nos canções em inglês. De fato, as irmãs MMM têm uma clínica na aldeia e, apesar de estarem muito ocupadas durante a semana com o atendimento aos doentes, dedicavam seu tempo de descanso no fim de semana com atividades da Igreja, como o caso da irmã no coral de jovens e outras irmãs que visitavam famílias, pessoas doentes, idosos etc. Vendo toda a contribuição das irmãs para a comunidade local e a Igreja, deixaram-me com muito desejo de ser missionária, mas não podia compartilhá-lo com ninguém porque meus pais já tinham falado que mais nenhuma outra filha poderia ser religiosa na família, já que nossa irmã mais velha é religiosa, então as outras filhas iriam se casar.

Um bendito dia após o nosso ensaio do coral, a irmã que nos ensinava músicas me perguntou, enquanto caminhávamos, se eu tinha o desejo de ser religiosa e me incentivou a visitar sua comunidade para conhecê-la melhor. Minha primeira visita à comunidade das MMM marcou o início de uma aventura missionária que foi concretizada gradualmente. Ainda na escola secundária, a irmã que era a animadora vocacional me convidou para visitar regularmente e participar nas vésperas, se quisesse, quando não houvesse aulas até muito tarde, pois minha casa ficava perto do convento. Então, comecei a participar regularmente na oração da tarde na comunidade delas. Eventualmente, depois do exame final no ensino médio que me qualificou para ingressar diretamente na universidade, senti que era hora de embarcar na aventura e, pela primeira vez, deixei meu país de origem e fui para a Nigéria, onde aprendi inglês em preparação para a entrevista que me permitiria ingressar na formação religiosa da congregação.

Depois de aprender inglês por três meses, fui entrevistada e aceita; comecei minha jornada de postulado de um ano, após o qual continuei no noviciado em Ibadan, na Nigéria; depois dos dois anos de noviciado, fiz minha primeira profissão religiosa em 2012 e fui enviada ao Brasil para a missão. Como jovem missionária, abracei a missão em Capim Grosso-BA de uma maneira muito aberta, embora inicialmente não tenha sido fácil. Muitas coisas eram bem diferentes e exigentes: eu não falava a língua portuguesa, a cultura era totalmente diferente, e a missão era nova para mim e, como jovem missionária, não tinha ainda experiência. Em 2013 participei do curso do Cenfi, onde aprendi a língua portuguesa e compreendi melhor a cultura brasileira e isso minimizou o choque cultural que tinha, e abracei a missão no Brasil.

Nesse período, trabalhei em nosso projeto chamado “Casa da Saúde” onde fazíamos o atendimento da comunidade com massagens, preparávamos pílulas de medicamentos naturais e suco de noni, que são bons para problemas estomacais, xarope com raiz de plantas e algumas outras folhas para gripe, também fazíamos limpeza dos ouvidos com canudo feito à base de vela ou com o aparelho auditivo dependendo do caso de cada paciente. Além disso, ajudava na Pastoral dos Jovens da paróquia, na Pastoral da Criança e do Batismo, visitávamos idosos, doentes em suas casas e levávamos a Comunhão para eles.

Comecei a preparar encontros para crianças em nossa capela onde elas se reuniam para brincar e, no processo, eu aproveitava para ensinar-lhes alguns valores como respeito, obediência, aceitação de outras pessoas, satisfação, etc. Algumas mães se aproximavam de mim e me pediam que conversasse com seus filhos (as) que não frequentavam a Igreja. Visitava os jovens em suas casas e depois que criava amizade com eles, eu os convidava para nos reunir, onde planejávamos nos encontrar semanalmente para partilhar experiências, a Palavra de Deus e a construir seu projeto de vida. Aos poucos eles começaram a participar da liturgia da palavra e na missa, fazendo as leituras, salmo ou a oração dos fiéis. Para motivar a participação deles, dramatizamos a narrativa do nascimento de Cristo em uma ocasião de Natal. Depois de um ano e dez meses, fui transferida para Salvador-BA em preparação para os estudos; passei sete meses e, enquanto estava lá, participei do nosso “Projeto consolação” que acompanha as famílias a passar pela dor da perda de seus filhos que foram mortos pela violência urbana. Participava também na paróquia e na capela quando precisavam da minha presença e ajuda.

Bernadete5Minha experiência de missão no Brasil me ajudou a entender melhor o sentido da missão a que fui enviada pela congregação, para realizar a cura e a missão holísticas de Cristo em toda forma que promova a dignidade humana, sua consideração, sua participação, para testemunhar o amor e a presença de Cristo, para trabalhar pelo desenvolvimento e transformação humana, colaborando com outras pessoas.

Em 2015, a missão seguinte foi no Quênia, voltada para os anos de estudos. Estudei e me formei em bacharelado em Desenvolvimento Humano Sustentável. Meus anos de estudos, de certa forma, também foram anos de missão, porque eu precisava aprender o idioma local, o suahíli, que era o segundo idioma nacional e mais usado do que o inglês no dia a dia. Meu instituto como estudos sociais também exigia a realização de diferentes trabalhos de campo como parte dos requisitos acadêmicos. Baseada na minha experiência da missão no Brasil, onde abracei muitas pastorais, decidi ter essas experiências com diferentes grupos sociais e em vários momentos durante meus três anos de estudos; primeiro, em uma casa de acolhida de pessoas com problemas mentais e físicos na favela de Kibera, dirigida pelos Irmãos Caridade da Madre Teresa; segundo, no Centro de Saúde das MMM em Mukuru, dirigido pelas irmãs MMM e fiz experiência com as pessoas com HIV / AIDS, na favela de Mukuru Kwa Njenga em Nairobi e, finalmente, com os refugiados urbanos na favela de Kawangware, Nairobi na organização Jesuítas a Serviço de Refugiados. Ter vivido essas experiências com diversos grupos sociais ampliou meu horizonte e conhecimento.

Depois dos estudos que terminei no ano passado, trabalhei na missão em meu país no Benin por sete meses, em nosso Centro de Saúde MMM em Zaffe, Benin. Ajudava não só na farmácia, mas também andava regularmente ao redor da clínica e conversava com os pacientes. Percebia que isso lhes dava a sensação de serem cuidados e ouvidos. Agora estou de volta ao Brasil, atuando em nossa comunidade de Salvador, onde espero continuar com espírito de abertura e disposição para a missão de uma maneira mais profissional, a fim de continuar testemunhando Cristo para as pessoas com quem trabalharei e compartilharei a vida.

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