Fórum Migrações e paz: economia inclusiva para enfrentar desafios sociais

“Fazer com que as migrações se transformem de necessidade em oportunidade, pela paz e o desenvolvimento harmônico da família humana”. Foram os votos do cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, ao pronunciar-se na manhã desta quarta-feira, 22, em Roma, no Fórum Internacional sobre Migrações e Paz, e que teve por tema, “Integração e desenvolvimento: as reação à ação”.

O evento foi organizado pelo Pontifício Conselho do Desenvolvimento Humano Integral, pela Rede Internacional Scalabriniana de Migração e pela Fundação Konrad Adenauer.

forum migraçõesO cardeal recordou, antes de tudo, o encorajamento do papa Francisco, em diversas ocasiões, para que se assuma o fenômeno das migrações, “um dos problemas fundamentais do mundo de hoje”. “No atual quadro mundial, marcado pela globalização – disse o cardeal – é sempre mais evidente a forte interdependência entre paz, desenvolvimento e respeito pelos direitos fundamentais. É difícil hoje, porém, acolher os sinais de um importante compromisso neste sentido, nas relações entre os Estados e entre os povos”.

As migrações no atual quadro político internacional
“Estratégias políticas guiadas por interesses flutuantes, pela insegurança e pelo medo, medidas políticas contrastantes, subdesenvolvimento e evasão dos recursos destinados a debelá-lo, conflitos intermináveis, violações dos direitos humanos, temor pelas consequências das mudanças climáticas e pela crise econômica não resolvida, imposições ideológicas também à assistência humanitária, deterioração de situações políticas, sociais, humanitárias, ambientais, com comércio criminoso de produtos, pessoas e recursos”.

É isto que provoca migrações e, ademais, obstáculos e barreiras no âmbito da política migratória “favorecem o recurso a vias alternativas e mais perigosas de migração irregular, de exploração e de abuso por parte de traficantes de pessoas, e perda de vidas humanas”.

O purpurado acrescentou que “para deter estes crimes, então, se transferem os problemas para outros países, com encargos econômicos e políticos tão grandes quanto perigosos e inadequados para resolvê-los e para garantir os direitos fundamentais das pessoas, a sua proteção e a sua dignidade”.

Migração internacional, direito humano a ser salvaguardado
A migração internacional não pode ser considerada como emergência transitória – prosseguiu o Cardeal Parolin – mas “um direito humano a ser salvaguardado; um componente estrutural que diz respeito a todos os continentes e que é necessário ser enfrentado nas suas causas (…) com sinergia e cooperação a nível global, com um programa sistemático e articulado de intervenções, compartilhado a nível multilateral, com estratégias e medidas orgânicas de sistema, com divisão dos encargos e responsabilidades”.

papa migrantesPara o Cardeal Secretário de Estado, “é necessária uma cooperação em todos os níveis, que nasça da constatação das atuais dificuldades e dos limites de cada Estado”, e que diante deste grande desafio “a comunidade internacional, em primeiro lugar, deveria buscar assegurar aos povos e aos indivíduos, paz e desenvolvimento, fazendo assim da migração, uma livre opção, antes que uma necessidade”.

Migrantes, precioso recurso humano
É “frequentemente subestimada, além disto, a grande contribuição oferecida pelos migrantes… aos países de acolhida, ao produto interno bruto e ao sistema fiscal, com a cobertura de vazios demográficos, de trabalho e de habilidades em setores-chave da economia e de serviços, como de contribuições de inovações, envolvimento, dinamismo, determinação, capacidade de iniciativa, de adaptação e de resiliência, quer na esfera econômica, quer naquela social e de enriquecimento cultural”.

O purpurado afirmou que os migrantes “podem dar tal contribuição, conformando-se às normas do país que os acolhe e respeitando os costumes e os princípios que regulam neles o viver social, e quando o país que os acolhe assegura o respeito de seus direitos e da sua dignidade, desde a sua chegada, atento a quem é vulnerável.

Recordando o discurso do Papa de 4 de fevereiro passado aos participantes do encontro de “Economia de comunhão”, o Cardeal Parolin evidenciou que “é necessário também insistir em mudar as regras do jogo do sistema econômico-social”.

“É necessário que esta economia inclusiva nasça de uma cultura que englobe a equidade social, econômica e ambiental, que saiba fazer frente aos atuais desafios sociais e tecnológicos.

Uma cultura da partilha que pressuponha a reciprocidade, entendida… como envolvimento partícipe e solidário de todos os sujeitos interessados, em que todos podem e devem oferecer a própria contribuição, incluídos os migrantes, os países de proveniência e de trânsito e de contribuição à sociedade civil”.

Uma cultura oferecida com humildade e respeito, “compartilhando a própria experiência com confiança na fraternidade humana e na solidariedade – que para nós cristãos significa caridade – como única resposta razoável, na evidente inadequação de outras abordagens”.

Economia inclusiva que cria vida
Por fim, concluiu o Cardeal, deveria tratar-se de “uma economia inclusiva que cria vida, porque compartilha, inclui os pobres, usa os lucros para criar comunhão faz esperar em um mundo onde os caminhos, entrecruzando-se, trazem nova esperança, dignidade, riqueza de relações; onde também o dinheiro, nesta ótica de dom recíproco, entre no circuito daquele cêntuplo anunciado pelo Evangelho, para quem dá e para quem recebe, para que a alegria seja de todos”.

Fonte: Rádio Vaticano

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